Uma droga comumente usada para combater bactérias pode ajudar no tratamento de pacientes afetados pelo mal de Chagas. Compostos derivados da tiazolina, produto sintético obtido por via química, mostraram-se capazes, em testes in vitro, de inibir o parasita, sem desencadear efeitos colaterais severos. A pesquisa foi desenvolvida pelo farmacêutico Diogo Moreira, mestrando pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e teve a orientação de Ana Cristina Lima Leite e Dalci José Brondani, com a colaboração de Marcelo Zaldini e Valéria Pereira.
O protozoário Trypanosoma cruzi, causador do mal de Chagas, visto ao microscópio.
Os compostos testados pelos pesquisadores mostraram-se eficazes contra o protozoário parasita Trypanosoma cruzi, causador da doença, sem apresentar alta toxicidade a células de mamíferos. É a primeira vez que se realizam estudos sobre as propriedades antiparasitárias dessa substância.
A fase seguinte da pesquisa está sendo realizada, desde 2004, na unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Salvador (BA), com testes in vivo
A depender dos resultados desses testes, os compostos derivados da tiazolina podem dar origem a uma nova droga contra o mal de Chagas. O único fármaco para combater o T. cruzi disponível comercialmente é o benznidazol. Esse composto é considerado bastante eficiente para tratar a doença durante a sua fase aguda, no início de sua manifestação. Ele já não tem a mesma eficácia, no entanto, caso a doença atinja sua fase crônica, quando ela se torna incurável.
Segundo Moreira, o benznidazol pode causar ainda uma série de efeitos colaterais logo no início do tratamento, como problemas hepáticos e renais e desregulação dos níveis de hemácias no sangue, o que pode levar muitos pacientes portadores da doença de Chagas a abandonar o tratamento. Além disso, muitos são reinfectados pelo T. cruzi, que pode adquirir resistência ao medicamento.
O mal de Chagas é típico de paises da América Latina e do Caribe. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que entre 8 e 10 milhões de pessoas estejam infectadas pelo parasita no Brasil, principalmente nas áreas rurais. A doença é transmitida pelo barbeiro e, durante a fase crônica, um dos principais sintomas é a cardiomiopatia, aumento do tamanho do coração causado pela inflamação do tecido cardíaco.
Por ser considerada uma doença típica de paises em desenvolvimento, o mal de Chagas é renegado por grandes centros de pesquisa e indústrias farmacêuticas. Moreira acredita que iniciativas de pesquisas sobre o mal de Chagas são de extrema importância para se diminuir a sua incidência. "São emergenciais estudos que abordem a doença, seja ela voltada ao desenvolvimento de medicamentos, à descoberta de novas intervenções cirúrgicas ou ao levantamento do número de doentes no país", afirma o pesquisador.
Fonte: Ciência Hoje On-line
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